Centro Cultural Kàjre

Sementes: a força das mulheres krahô

O que se chama hoje de Amazônia Legal abriga muito mais do que as densas florestas que comumente imaginamos. Ocupando uma área que abrange nove estados brasileiros, esse espaço complexo e cheio de vida guarda três dos mais importantes biomas do mundo: a Amazônia e  partes do Pantanal e do Cerrado. 

O Povo Krahô habita o nordeste do estado do Tocantins e seu território é considerado uma das maiores áreas contínuas de Cerrado preservado no país. Grandes conhecedoras e guardiãs desse bioma, as mulheres Krahô produzem biojoias com diferentes tipos de fibras naturais e sementes.

A chegada da designer Dayana Molina à aldeia Pedra Branca foi uma abertura para vários encontros. De origem indígena Aymara e Fulni-ô, Dayana compartilhou as refeições com as artesãs e participou de celebrações, como a Festa da Laranja. As artesãs aproveitaram a oportunidade para se reunir, algo que não faziam havia muito tempo. De porção em porção, foram juntando as sementes que cada uma tinha em casa para desenvolver as peças, trabalhando sempre de forma muito afetiva. Dayana ia sugerindo os caminhos, mas eram as artesãs que conduziam o processo criativo e tomavam todas as decisões de maneira coletiva. As peças aqui apresentadas celebram a tradição, a força das mulheres Krahô e o seu bioma. 

A Força das Mulheres Krahô
80 x 170 x 10 cm

Centro Cultural Kàjre

Os krahô falam a língua timbira, pertencente à família jê e ao tronco macro-jê. Com cerca de três mil pessoas, vivem em 28 aldeias na terra indígena Kraholândia, no estado do Tocantins. As aldeias têm formato circular, sendo que cada casa tem um caminho que leva ao pátio central. 

Eles são, tradicionalmente, caçadores e cultivam roças com variedades de batata-doce, milho, inhame e outros alimentos. Suas sementes ancestrais quase se perderam no contato com os não indígenas. Também utilizam objetos feitos com fibras de tucum e buriti, como cestos e esteiras. Para as mulheres indígenas, aprender a fazer o artesanato é algo que as constitui enquanto mulheres, além de ser uma importante fonte de renda.

Localizada no município de Goiatins, a Aldeia Pedra Branca é a mais antiga, com cerca de 550 pessoas. Ao longo de mais de 60 anos, deu origem a 10 aldeias. O Centro Cultural Kàjre é a associação indígena que representa essa aldeia e tem como objetivo divulgar e fortalecer a cultura Krahô. O centro desenvolve projetos culturais e de manejo sustentável das matérias-primas, além de organizar a comercialização do artesanato produzido por cerca de 150 artesãs e 10 artesãos. A renda gerada é utilizada para manter a associação e para apoiar a comunidade em suas necessidades, como a realização de mutirões, viagens e festas tradicionais.

Tiririca

O trabalho de coleta e transformação das tiriricas em contas é feito tradicionalmente pelas mulheres mais velhas. A tiririca (Scleria macrophylla) também é conhecida como capim-navalha por ter folhas cortantes. A coleta das sementes é realizada entre julho e agosto. Para conseguir furá-las e retirar a “cabecinha”, é necessário amolecê-las. Existem pelo menos três técnicas delicadas e bastante trabalhosas para transformá-las em contas perfeitas.

As biojoias Krahô são trançadas com finos fios de tucum, produzidos com as fibras obtidas das folhas de duas espécies de palmeira chamadas de tucum. Como as folhas de tucum têm muitos espinhos, coletá-las é um trabalho delicado/perigoso que pode machucar as mãos. É preciso muito conhecimento para evitar os espinhos e as mulheres Krahô são as grandes conhecedoras desse saber. As fibras são retiradas friccionando as extremidades das folhas com os dedos. A fiação, por sua vez, é feita enrolando as fibras com a palma da mão em movimentos contínuos e repetitivos, tendo a coxa como apoio.

A luta Krahô

Os Krahô viviam como nômades em um território muito maior que o atual, no sul do estado do Maranhão. O contato com não indígenas se intensificou no século XIX com o avanço das fazendas de gado, levando-os a migrar para o interior do território até o nordeste do Tocantins. Em agosto de 1940 aconteceu um grande massacre do povo Krahô, realizado por policiais e fazendeiros que se queixavam do roubo de gado. Duas aldeias foram incendiadas e calcula-se que 26 indígenas foram mortos. Os sobreviventes fugiram para as matas e viveram dias se escondendo. O número de mortos poderia ter sido muito maior caso não tivesse havido uma intervenção federal. Esses eventos, bastante dolorosos para o Povo Krahô, levaram à demarcação da terra indígena Kraholândia em 1951.

Atualmente, as terras indígenas Krahô estão sendo cercadas por grandes fazendas que cultivam principalmente a soja. A utilização intensa de agrotóxicos tem contaminado os rios e córregos da reserva. Os indígenas denunciam a diminuição de animais, impactando a caça e a pesca, essenciais para sua alimentação. Cada vez mais confinados pela expansão do agronegócio, eles lutam pela preservação desse bioma e, consequentemente, dos seus modos de vida.

Patuá de proteção
7 x 20 cm
Pulseira
19,5 x 6 cm
Gargantilha caxê
33 x 25 cm
Bolsa tucum com detalhe de semente de tiririca

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