Admirar

Para além da forma e da estética, a produção artesanal revela as referências cosmológicas, lúdicas e culturais de seus autores, que conferem uma beleza única às peças. Vamos aguçar o olhar?

A realização de muitas atividades cotidianas dos povos amazônicos depende do uso de objetos trançados. As esteiras oferecem lugar de descanso. Frutos, lenha e outros materiais são transportados pelas florestas por longas distâncias em grandes cestos cargueiros. Os tipitis e peneiras são essenciais para o processamento da mandioca e os abanos servem para avivar o fogo e virar os beijus. Já os cestos armazenam alimentos, além de guardar e organizar diversos objetos.

As técnicas utilizadas para produzi-los variam, assim como as fibras. Todas de origem vegetal, elas são obtidas de diversas espécies de palmeiras, cipós e outras plantas. A exceção é o përisi dos cestos Yanomami, provavelmente o único fungo do mundo utilizado para trançar. Além dos usos práticos, os trançados apresentados aqui também podem possuir significados simbólicos, percebidos pela presença de grafismos criados a partir do entrelaçamento de fibras coloridas. 

Algumas peças foram criadas por meio da união fecunda dos conhecimentos tradicionais com os princípios do design. Com novos formatos e funções, esses produtos possuem alto valor agregado e sua comercialização é uma importante fonte de renda para diferentes comunidades.

Cesto
Autoria:Povo Hupda (Maku)
Material: Cipó-titica
Local: Amazonas
Coleção Artesol
32cm x 34cm x 32cm

A cestaria Hupda é considerada muito resistente e com grande durabilidade. Por isso, é bastante procurada por outros grupos indígenas da região.

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Cesto
Autoria: Povo Ye’kwana
Local: Roraima
Material: cipó titica
Coleção Artesol
25cm x 27cm x 25cm

Saber produzir bons cestos é uma habilidade que indica a maturidade de homens e mulheres Ye’kwana. Sua cestaria é conhecida pelos grafismos que representam seres de sua mitologia, geralmente com a forma de animais.

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Cesto Wɨɨ
Autoria: Povo Yanomami
Local: Amazonas
Material: cipó too toto e fungo përɨsɨ
Coleção Artesol
38cm x 31cm x 38cm

O cesto Wɨɨ utilizado para carregar lenha, mandioca da roça e outros alimentos da floresta. Os grafismos são trançados com o fundo negro përɨsɨ.

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Cesto cargueiro
Autoria: Povo Canela
Local: Maranhão
Material: fibra de buriti
Coleção Artesol
32cm x 70cm x 32cm

Os Canela utilizam as folhas do buriti para fazer o telhado e as paredes das casas, objetos de uso cotidiano como cestos, tipitis, abanos e esteiras e objetos ritualísticos, como os batoques utilizados nas orelhas pelos homens.

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Cesto Kax (cargueiro)
Autoria: Povo Mebêngôkre (Kayapó)
Local: Pará
Material: fibra de buriti
Coleção Artesol
27cm x 60cm x 27cm

Tradicionalmente feito pelos homens mais velhos, é utilizado pelas mulheres em atividades do cotidiano, como busca de alimentos na horta e na floresta.

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Balaio
Autoria: Povo Baré
Local: Amazonas
Material: fibra de arumã
Coleção Artesol
46cm x 9cm x 46cm

Os balaios são tradicionalmente utilizados para recolher a massa de mandioca e transportar alimentos.

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Cesto cunho
Autoria: povo Waujá
Local: Mato Grosso
Material: fibra de buriti e linha de algodão
Coleção Artesol
49cm x 17cm x 45cm

Esse tipo de cesto é produzido por diferentes povos do Xingu. Originalmente, era utilizado para pegar peixes nos rios.

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Peneiras
Autoria: Povo Sateré Mawé
Local: Amazonas
Material: fibra de arumã
Coleção Artesol
29cm x 7cm x 29cm
e 29cm x 7cm x 29cm

Originalmente utilizada para peneirar a massa de mandioca fermentada e prensada, desfazendo os blocos úmidos para irem ao tacho.

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Cesto Matyty
Autoria: Povo Waimiri Atroari
Local: Amazonas
Material: fibra de arumã, casca de ingá silvestre, breu e marajaí
Coleção Artesol
29cm x 29cm x 29cm

Tradicionalmente confeccionados pelos homens, são utilizados para guardar alimentos, como beiju e carne moqueada.

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Cesto
Autoria: Povo Mehinako
Local: Mato Grosso
Material: fibra de buriti
Coleção Artesol
40cm x 40cm x 40cm

Alguns povos indígenas do Xingu compartilham a língua e os modos de fazer. Por isso, objetos com formatos e grafismos parecidos são produzidos por mais de uma etnia, como é o caso desse cesto.

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Cesto pacará
Autoria: Povo Ticuna
Local: Amazonas
Material: fibra de arumã e fio de tururi
Coleção Artesol
23cm x 52cm x 23cm

Para criar os grafismos em cor preta ou marrom, as fibras são tingidas com o cipó cumatê. O grafismo em zigue zague representa as asas da gaivota.

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Cesto Potu'a
Autoria: Povo Zo’é
Local: Pará
Material: fibra de arumã
Coleção Artesol
33cm x 39cm x 18cm

Com tampa, esse tipo de cesto é utilizado para guardar alimentos, adornos e outros objetos.

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Vaso e fruteira
Autoria: artesãs da TURIARTE - Cooperativa de Turismo e Artesanato da Floresta
Local: Santarém - Pará
Material: fibra de tucumã e tingimento natural
Coleção Artesol
26cm x 20cm x 26cm
e 38cm x 8cm x 38cm

Mais de 50 artesãos, em sua grande maioria mulheres, de cinco comunidades ribeirinhas da Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns fazem parte da cooperativa.

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Cesto e peneira
Autoria: artesãs do grupo Teçume da Amazônia
Local: Maraã - Amazonas
Material: fibra de cauaçu e tingimento natural
Coleção Artesol
39cm x 32cm x 39cm
e 52cm x 9cm x 52cm

O artesanato é a principal fonte de renda de mais de trinta mulheres do grupo, que vivem na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã.

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Fruteiras
Autoria: artesãos da Associação dos Artesãos Indígenas de São Gabriel da Cachoeira - ASSAI em parceria com o designer Sérgio J. Matos
Local: São Gabriel da Cachoeira - Amazonas
Material: fibra de tucum e arumã
Coleção Artesol
46cm x 20cm x 46cm,
44cm x 9cm x 35cm
e 46cm x 22cm x 46cm

Peças desenvolvidas pelos artesãos da ASSAI em parceria com o designer Sérgio J. Matos no Projeto Brasil Original, promovido pelo SEBRAE Amazonas.

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Fruteira Pétala
Autoria: artesãos do grupo NACIB - Núcleo de Arte e Cultura Indígena de Barcelos em parceria com o designer Sérgio J. Matos
Local: Barcelos - Amazonas
Material: piaçava
Coleção Artesol
52cm x 13cm x 52cm

A peça foi desenvolvida pelos artesãos da NACIB em parceria com o designer Sérgio J. Matos no Projeto Brasil Original, promovido pelo SEBRAE Amazonas.

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Vaso Chucalho de Índio e fruteira Girassol
Autoria: artesãos do grupo Teçume da Floresta em parceria com o designer Sérgio J. Matos
Data: 2022
Local: Careiro - Amazonas
Material: cipó ambé
Coleção Artesol
46cm x 36cm x 46cm
e 50cm x 2cm x 50cm

Peças desenvolvidas pelos artesãos do grupo Teçume da Floresta em parceria com o designer Sérgio J. Matos com apoio do Sebrae Amazonas, Governo do Amazonas e Programa do Artesanato Brasileiro - PAB.

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A transformação de sementes em contas é um trabalho delicado e bastante demorado. Depois de coletadas, recebem diferentes tratamentos: elas podem ser cozidas, assadas ou tingidas, cortadas e perfuradas uma a uma, lixadas e polidas para o acabamento. O mesmo acontece com as conchas, obtidas de caramujos terrestres e de outros moluscos aquáticos. Prontas, as contas são combinadas para a criação de adornos que embelezam corpos e objetos. Observe as peças expostas e repare como as contas são enfileiradas, trançadas, tecidas ou penduradas, com diferentes fibras vegetais. Para a maior parte dos povos indígenas da Amazônia, confeccionar as contas e os adornos são tarefas exclusivamente femininas, pois as mulheres são responsáveis por adornar os corpos das crianças e de seus familiares.

Com características acústicas, as matérias-primas vegetais também são utilizadas na confecção de instrumentos musicais. O atrito entre as sementes de aguaí ou de pequi produz o som dos chocalhos, que também são feitos com cabaças recheadas de sementes. Já a taquara é usada para fazer buzinas e flautas. Esses instrumentos marcam o ritmo das celebrações e rituais com sons profundamente conectados com a floresta e seus espíritos.

Colar
Autoria: Povo Marubo
Local: Amazonas
Material: coco murumuru e caramujo aruá
Coleção Artesol
44cm x 11cm

Para os Marubo, umas das funções mais importantes da mulher é a confecção de contas e a criação de adornos. A matéria-prima mais utilizada é a concha do caramujo aruá, cada vez mais difícil de encontrar. Originalmente marrom, a concha é tratada com cinzas para ficar branca.

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Colar
Autoria: Povo Kalapalo
Local: Mato Grosso - Xingu
Material: placas de caramujo inhu e de tucum em fio de algodão
Coleção Artesol
8cm x 8cm

É uma joia xinguana valiosa e um presente sagrado, tradicionalmente usado por homens. Cortar as conchas uni-las é um trabalho que exige muito conhecimento. As placas não podem estar muito apertadas, pois o colar deve se mover como o corpo, tornando-se uma parte dele.

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Tanga
Autoria: Povo Waimiri Atroari
Local: Norte do Amazonas e Sul de Roraima
Material: fibra de caroá, sementes de paxiubinha e bacaba.
Coleção Artesol
25cm x 13cm

A tanga era tradicionalmente usada pelas mulheres Waimiri Atroari, mas a peça caiu em desuso. Os homens usavam uma cinta de cipó titica, que funcionava como um suspensório peniano.

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Par de braceletes
Autoria: Povo Mebêngôkre (Kayapó)
Local: Pará
Material: fibras naturais
Coleção Artesol
10cm x 15cm x 10cm

Braceletes utilizados pelos homens na Festa do Bemp (peixe), cerimônia em que os meninos são iniciados e recebem nomes.

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Bandoleira
Autoria: Povo Mamaindê (Nambikwara)
Material: tucum, concha e semente de olho de cabra
Local: Rondônia e Mato Grosso
Coleção Artesol
62cm x 20cm

Para os Mamaindê, um bom colar é feito de contas pretas de tucum. Os pendentes triangulares são feitos com as conchas de um molusco bivalve encontrado em lagoas. Tradicionalmente, os pendentes são usados principalmente como brincos por homens, mulheres e crianças para trazer alegria, saúde e beleza.

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Buzina
Autoria: Povo Mebêngôkre (Kayapó)
Local: Pará
Material: taquara e cipó
Coleção Artesol
28cm x 5cm

Instrumento musical utilizado em rituais e festas.

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Chocalho
Autoria: Povo Wai Wai
Local: Amazonas, Pará e Roraima
Material: cabaça, sementes de morotó e aguaí tingidas
Coleção Artesol
22cm x 11cm

As artesãs Wai Wai fazem biojoias elaboradas, tangas e outras peças com as sementes da árvore morotó tingidas naturalmente com plantas e com fio de algodão fiado naturalmente.

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Maracá
Autoria: Povo Karajá
Local: Mato Grosso
Material: cabaça, madeira, sementes e fibras naturais
Coleção Artesol
28cm x 10cm

Além de marcar o ritmo de danças e cantos, o maracá tem o poder de conectar os humanos com o mundo invisível dos espíritos. É dos instrumentos dos pajés.

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Bolsa
Autoria: Artesãs das etnias Marubo, Wai Wai e Tukano em parceria com a marca Eté
Local: Amazonas
Material: fibra e tingimento natural, sementes e miçangas
Coleção Artesol
51cm x 44cm x 15cm

A parceria entre artesãos de comunidades tradicionais e designers possibilita trocas de conhecimentos e a cocriação de novos produtos que valorizam as raízes culturais.
Clutch
Autoria: Artesãs das etnias Marubo, Wai Wai e Tukano em parceria com a marca Eté
Local: Amazonas
Material: fibras naturais e sementes de morotó
Coleção Artesol
36cm x 37cm

A parceria entre artesãos de comunidades tradicionais e designers possibilita trocas de conhecimentos e a cocriação de novos produtos que valorizam as raízes culturais.

Achados arqueológicos indicam o uso de bancos por povos da Amazônia há mais de quatro mil anos. Geralmente esculpidos em uma única peça de madeira, eles são baixos e de uso individual. Os bancos são sempre produzidos por homens, pois o entalhe é entendido como uma atividade masculina. Os ornamentos, por outro lado, podem ser realizados por mulheres, como é o caso dos bancos Karajá. Nesse conjunto, você pode observar como os formatos e ornamentações variam de acordo com a cultura de cada povo. Dois têm a forma de animais, como o urubu-rei que pode voar longe e, por isso, têm forte relação com o sobrenatural. Vários possuem os mesmos grafismos tradicionalmente pintados nos corpos, como o banco Asurini. As pinturas são feitas com diferentes tintas naturais, como o jenipapo, o urucum e o carajuru, que tinge de vermelho o assento do banco Tukano. Da mesma forma, os usos também variam de acordo com as práticas culturais de cada grupo. Eles podem ser utilizados para atividades cotidianas ou em celebrações, diferenciando os indivíduos da comunidade por critério de gênero ou idade. Os bancos são especialmente utilizados pelos pajés em rituais e para se comunicar com os espíritos da floresta. Sentado no banco, o pajé assume uma postura corporal que conecta dois mundos: os joelhos apontam para o céu, enquanto os pés se fixam na terra.

Banco Kumurõ
Autoria: Povo Tukano
Local: Amazonas
Material: madeira
Coleção Artesol
25cm x 12cm x 5cm

Os bancos Tukano são tão únicos que funcionam como um distintivo étnico do grupo. São trocados por outros produtos com povos vizinhos e, por isso, são utilizados por várias etnias.

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Banco zoomorfo
Autoria: Povo Ticuna
Local: Amazonas
Material: madeira
Coleção Artesol
48cm x 25cm x 6cm

Os Ticuna são o grupo étnico mais numeroso da Amazônia e tem na produção de máscaras, desenhos e bancos uma manifestação de sua riqueza cultural.

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Banco zoomorfo
Autoria: Stive Mehinako
Local: Mato Grosso - Xingu
Material: madeira
Coleção Artesol
60cm x 38cm x 40cm

Banco de formato zoomórfico, representando um urubu rei de duas cabeças. Esses bancos são tradicionalmente utilizados somente pelos chefes em rituais.

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Banco
Autoria: Povo Asurini
Local: Pará
Material: madeira
Coleção Artesol
41cm x 21cm x 18cm

De uso ritual e cotidiano, é adornado com desenhos Tayngava, padrões geométricos que permitem composições infinitas.

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Banco
Autoria: Povo Karajá
Local: Aldeia Fontoura, Lagoa da Confusão - Tocantins
Material: madeira e penas
Coleção Artesol
80x20x16

Utilizados em contextos rituais, o banco tem grande importância na cerimônia de passagem da infância para a idade adulta dos meninos Karajá

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Por suas características físicas e químicas, as cerâmicas resistem mais facilmente à passagem do tempo na floresta quente e úmida, diferentemente de materiais orgânicos como fibras naturais. Por isso, peças e fragmentos cerâmicos encontrados em escavações arqueológicas são essenciais para entender a história da Amazônia, que já era amplamente habitada por sociedades complexas há pelo menos 10 mil anos. Atualmente, a cerâmica continua a ser praticada e mantida por diferentes populações que habitam a região e seus usos variam. Elas podem ser utilizadas para preparar e servir alimentos, em rituais ou função decorativa.

As peças aqui expostas têm três origens diferentes. Um conjunto maior,  formado por cerâmicas indígenas, cuja produção é entendida como uma atividade exclusivamente feminina. Um conjunto menor que compreende as cerâmicas quilombolas, que carregam o saber ancestral de povos africanos que foram levados para a região como mão-de-obra escrava no período colonial. O terceiro conjunto apresenta duas réplicas de peças arqueológicas, produzidas a partir do trabalho de pesquisa em museus e livros especializados iniciado na década de 1970 pelo Mestre Cardoso, falecido em 2006, e atualmente pelo pesquisador e também mestre ceramista Jefferson Paiva.

Você percebeu que as cerâmicas possuem elementos decorativos? Alguns deles têm apenas a função de embelezar, mas outros possuem uma forte relação com as histórias de cada povo, como é o caso das serpentes que aparecem nas cerâmicas Waujá e Juruna. As decorações podem ter também uma função prática. Para as mulheres Marubo, o interior preto da panela evita que as bananas se queimem quando estão cozinhando.

Potes
Autoria: Povo Asurini
Local: Pará
Material: cerâmica, pigmentos vegetais e minerais e resinas vegetais
Coleção Artesol
17cm x 10cm x 17cm
e 15cm x 7,5cm x 15cm

Na parte externa, as artesãs aplicam a resina de jatobá, que ganha aspecto de vitrificado após ir ao fogo. Na parte interna, aplicam a resina de ingá para que a cerâmica possa ser usada com líquidos e alimentos.

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Tigelas
Autoria: Povo Marubo
Local: Amazonas
Material: cerâmica
Coleção Artesol
17cm x 8cm x 17cm
e 14cm x 8cm x 14cm

Para obter a cor negra, as artesãs esfregam folhas de folhas de mamão no interior da tigela, que é defumada com folhas de ivi chaca e de mamão. Para obter os desenhos em negativo, usam uma cobertura temporária de argila.

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Panela
Autoria: Povo Koripako
Local: Alto Rio Negro - Amazonas
Material: cerâmica e resina vegetal
Coleção Artesol
19cm x 10cm x 19cm

As artesãs enegrecem a argila com defumação e depois riscam os grafismos.

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Tigela
Autoria: povo Baniwa
Local: Alto Rio Negro - Amazonas
Material: cerâmica e resina vegetal
21cm x 12cm x 21cm

Os grafismos são pintados com uma argila amarela misturada com um líquido ácido, como o caldo da mandioca brava ou suco de limão. Depois da queima, adquirem a cor vermelha.

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Tigela
Autoria: Povo Juruna
Local: Mato Grosso
Material: cerâmica, pigmentos vegetais e minerais
Coleção Artesol
26cm x 11cm x 26cm

As linhas pretas representam uma cobra. Os Juruna contam que uma serpente explodiu e espalhou no mundo muitas sementes, dando origem aos alimentos.

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Panela
Autoria: Povo Waujá
Local: Mato Grosso
Material: cerâmica e tinta de jenipapo
Coleção Artesol
25cm x 19cm x 25cm

Os Waujá contam que Kamalu Hai, uma grande cobra-canoa, ensinou as mulheres Waujá a criarem objetos de cerâmica. Antes de ir embora, defecou argila ao longo do rio Botovi, para que eles sempre pudessem produzir seus objetos.

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Panela
Autoria: Povo Tukano
Local: desconhecido
Material: cerâmica e resina vegetal
Coleção Artesol
36cm x 22cm x 36cm

Os Tukano chamam as caçarolas usadas para preparar alimentos de Kihputu. O uso de tampas é uma inovação recente.

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Tigela (réplica de peça arqueológica)
Autoria: Icoaraci - Pará
Local: Icoaraci - Pará
Material: Cerâmica e pigmentos minerais
23cm x 22cm x 5,5cm

Mestre Cardoso é responsável por difundir a arte marajoara. Dedicou mais de 30 anos de sua vida a estudar a arqueologia amazônica e a replicar as peças em cerâmica guardadas pelo Museu Paraense Emílio Goeldi, em Belém do Pará.
Vaso tapajônico (réplica de peça arqueológica)
Autoria: Jefferson Paiva
Local: Santarém - Pará
Material: cerâmica e pigmentos naturais
38cm x 26cm x 31cm

Atualmente, muitos ceramistas da região amazônica dedicam-se a replicar as peças arqueológicas do povo tapajônico que vivia às margens do rio Tapajós.

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Conjunto de louças quilombolas: panela, travessa e duas tigelas
Autoria: artesãs da Associação de Mulheres de Itamatatiua
Local: Alcântara - Maranhão
Material: cerâmica
12cm x 8cm x 12cm,
16cm x 5cm x 12cm,
9cm x 5cm x 9cm,
e 12x 5cm x 12cm

A produção cerâmica sempre fez parte dos trezentos anos de história de Itamatatiua, uma das comunidades quilombolas mais antigas do Maranhão. Além das louças utilitárias e peças decorativas, confeccionam bonecas que representam as mulheres da comunidade, cenas do cotidiano e festas populares. Pesquisas recentes indicam que as técnicas e o vocabulário utilizados pelas artesãs de Itamatatiua são muito semelhantes aos das ceramistas indígenas da área central da Amazônia. A produção cerâmica une, assim, conhecimentos ancestrais de duas origens: dos povos indígenas que habitavam a região de Alcântara e dos povos africanos trazidos para o local no século XVIII como escravizados.

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Esse conjunto de cuias foi confeccionado com o fruto da árvore cuieira (Crescentia cujete) pelas artesãs da Associação das Artesãs Ribeirinhas de Santarém, localizada na cidade de Santarém, no Pará. As cuias são utilizadas por povos ribeirinhos e indígenas amazônicos em diferentes tarefas, como consumir alimentos e bebidas, tomar banho e retirar a água dos barcos. Atividade exclusivamente feminina, a confecção das cuias leva em média oito dias e possui muitas etapas. O fruto é colhido, cortado em duas metades, limpo e polido. Em seguida, é tingido com o cumatê, tintura natural obtida da casca da árvore cumatezeiro. Após a fixação da cor, preta e brilhante,
a cuia pode ser decorada por meio de incisões, utilizando uma faca. As decorações têm diferentes temáticas e são chamadas pelas artesãs de “bordados”. Bastante tradicionais, os desenhos florais remetem às louças, influência da colonização portuguesa. Já os motivos geométricos, que você pode ver aqui, são inspirados nos grafismos das cerâmicas arqueológicas do antigo povo Tapajó, que viveu na região de Santarém até o século XVIII. Devido à sua grande importância cultural e simbólica, o modo de fazer cuias do Baixo Amazonas foi registrado como Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro, inscrito no Livro de Registro dos Saberes em 2015.

Na região amazônica, as cuias são especialmente utilizadas para servir pratos com caldos como o tacacá, que é feito com o tucupi (um caldo preparado com a mandioca brava), folhas de jambu e camarão seco. Diferentemente do prato que fica sobre a mesa, a cuia permite trazer a comida mais perto da boca e, até mesmo, beber diretamente dela. Você já experimentou algum prato típico da Amazônia servido nas cuias? Como foi essa experiência?

Na floresta amazônica existem diversas espécies de árvores produtoras de látex, matéria-prima para a confecção da borracha. Cada tipo de látex possui características próprias e os povos indígenas que habitam essa região sabem, há séculos, como extraí-los e trabalhá-los para produzir diversos tipos de objetos. O látex mais conhecido é o da seringueira (Hevea brasiliensis), que possui diversas aplicações industriais e artesanais. A união dos conhecimentos tradicionais com as pesquisas realizadas em universidades levou à criação dos encauchados, técnica utilizada por unidades familiares para criar peças emborrachadas no meio da floresta. Outro tipo de látex menos conhecido é a balata, obtido da árvore balateira (Manilkara bidentata). Encontrada somente nas florestas à margem esquerda do rio Amazonas, em uma região repleta de cachoeiras, sua extração é realizada em excursões perigosas que chegam a durar seis meses. A balata já foi o principal item de exportação do estado do Pará entre as décadas de 1930 e 1970, destinada à indústria. Hoje, praticamente toda a balata extraída é utilizada na produção de objetos figurativos por habilidosos artesãos retratando cenas de seus cotidianos, a flora e a fauna da floresta. Desde seu processo de extração até a modelagem, os modos de fazer relacionados à balateira foram reconhecidos como Patrimônio Cultural do Estado do Pará pela Lei n° 8.073/2014

cupuaçu.
46cm x 12cm

Conjunto de folhas
Autoria: artesãos da Seringô - Polo de Proteção da Biodiversidade e Uso Sustentável dos Recursos Naturais (Poloprobio)
Local: Castanhal - Pará
Material: látex natural de seringueira e fibras vegetais
Coleção Artesol

Os encauchados vegetais da Amazônia são produzidos em seringais nativos por comunidades indígenas e de caboclos a partir da mistura do látex natural com fibras vegetais. As peças são moldadas em formas de alumínio reciclado fundidas a partir de folhas naturais.

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fruta-pão
67cm x 50cm
seringueira
36cm x 36cm
vitória-régia
45cm x 47cm
capeba
42cm x 42cm
apuí
46cm x 36cm
algodoeiro
52cm x 50cm
taioba
65cm x 50cm
Conjunto de animais do bioma amazônico
Autoria: Jaime da Silva
Local: Boa Vista - Amapá
Material: balata
Coleção Artesol

O povo indígena Macuxi tradicionalmente usa a balata na construção de suas casas e na confecção de figuras e brinquedos. Os animais da fauna amazônica são frequentemente recriados com esse material.

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Árvore da Vida e duas canoas Macuxi
Autoria: Jaime da Silva
Local: Boa Vista - Amapá
Material: balata
Coleção Artesol
30cm x 38cm x 30cm,
23cm x 11cm x 10cm,
e 25cm x 6cm x 11cm

Cenas do cotidiano e histórias da cosmologia são recriados em balata por artesãos de origem Macuxi. Nas canoas, os indígenas carregam frutas ou peixes. Nos galhos da Árvore da Vida - Wazacá - cresciam todos os tipos de plantas cultivadas e silvestres que os indígenas se alimentam. Ao cortá-la, Macunaíma espalhou as plantas no mundo e as águas dos rios jorraram do seu toco.

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Coleta do açaí, Cavaleiro e Búfalo Montado
Autoria: Darlindo José de Oliveira Pinto
Local: Belém - Pará
Material: balata
Coleção Artesol
8cm x 30cm,
12cm x 4cm x 10cm,
e 12cm x 4cm x 10cm

Darlindo é mestre de ofício na modelagem de balata. Suas criações são inspiradas na natureza, nas histórias e nas cenas do cotidiano da região amazônica. A peça “Búfalo Montado” foi criada por ele em 1985 e recebeu o prêmio de Artesanato de Excelência pela UNESCO em 2012. A criação de búfalos é fundamental para a economia da Ilha do Marajó, no Pará.

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(bonecas karajá)

O povo indígena Karajá vive nas margens do rio Araguaia, nos estados de Tocantins, Mato Grosso e Goiás. Ritxòkò é a palavra utilizada pelas mulheres Karajá para se referir às bonecas de barro, bem como aos conhecimentos e saberes necessários para confeccioná-las. A produção das figuras é uma atividade exclusivamente feminina, passada de geração em geração. Elas representam motivos mitológicos, da vida cotidiana, de rituais e da fauna e portam as pinturas corporais e os adornos tradicionais do povo Karajá. São dadas de presente às meninas de acordo com a sua faixa etária e, por isso, têm um papel fundamental na socialização da mulher Karajá. Originalmente, eram confeccionadas em cera de abelha e em barro cru. A partir da década de 1940 passaram a ser queimadas, portanto, feitas de cerâmica. O modo de fazer as Ritxòkò foi reconhecido como patrimônio cultural imaterial brasileiro por meio do registro das Formas de Expressão e do livro dos Saberes, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

A miçanga ocupou e ainda ocupa um importante papel nas relações entre as sociedades indígenas e não indígenas. No período colonial, as contas de vidro foram utilizadas como uma moeda de troca pelos europeus, interessados nas riquezas naturais deste território que viria a ser o Brasil. Enquanto os europeus julgavam trocar quinquilharias por valiosas matérias-primas, os indígenas, consideravam as miçangas valiosas e exóticas. Esse fascínio pode ser explicado pelo valor que as culturas indígenas atribuem às miçangas enquanto material para a confecção de adornos corporais, objetos essenciais para a formação da identidade individual e coletiva e para a realização de rituais. Nessas sociedades, os adornos corporais diferenciam as pessoas, marcam os gêneros masculino e feminino e as fases da vida, tornando-se parte do corpo de quem os porta. Esse conjunto de adornos, formado por brinco, colares e braceletes foram confeccionados com miçangas por artesãs do povo kayapó e são utilizados como símbolos de beleza, prestígio e felicidade.

O que leva você a usar determinado acessório? A beleza, o estilo, um significado especial? Atualmente, muitos não indígenas usam colares e pulseiras confeccionados por artesãos de diferentes povos indígenas. Diversos motivos podem justificar essa escolha, como a beleza das peças, sua importância cultural, seu significado simbólico e, até mesmo, a busca por proteção espiritual, pois esses objetos são considerados amuletos. 

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