Amarn

Para desalagar

Ao aceitar participar da imersão criativa, as artesãs da Associação de Mulheres Indígenas do Alto Rio Negro – Amarn prontamente se organizaram para realizar um exercício sobre suas memórias, refletindo sobre os elementos que as conectavam com seu local de origem. Obrigadas a deixar suas aldeias na região do Alto Rio Negro, essas mulheres viajaram 850 quilômetros em busca de uma vida melhor na cidade de Manaus. Ali, foram exploradas como trabalhadoras domésticas e cuidadoras, passando por situações de violência e preconceito. Na associação, tiveram apoio e se fortaleceram.

As peças criadas no encontro com a designer Zuri Almeida propõem um mergulho nas histórias dessas mulheres. A canoa, importante meio de transporte para o povo amazônico, é a grande guia. Pendurada, ela oferece o conforto de uma rede de dormir e carrega uma infinidade de miudezas, simbolizando o que cada mulher trouxe consigo na longa viagem. 

Muitas dessas mulheres nunca retornaram às suas aldeias. Elas trazem consigo suas raízes vivas, que as conectam ao passado e alumiam os caminhos do futuro.

Para Desalagar
59 x 55 x 25 cm

AMARN

A Associação de Mulheres Indígenas do Alto Rio Negro – Amarn existe desde 1984, mas foi formalizada em 1987. É a primeira associação de mulheres indígenas do Brasil e uma das associações indígenas mais antigas do país. Com o apoio da antropóloga Janete Chernella, organizaram o grupo para promover oportunidades de geração de renda, qualidade de vida e formação política a essas mulheres, que viviam marginalizadas na cidade de Manaus. Várias haviam sido “traficadas” até ali para ser empregadas domésticas. Em busca de falsas promessas de melhora de vida, trabalhavam sem direito a folgas e, muitas vezes, sem salário, recebendo hospedagem e alimentação como forma de pagamento. Esse movimento de migração do Alto Rio Negro para Manaus teve início na década de 1970 e continua até hoje.

A Amarn é formada por mais de 80 mulheres de diferentes etnias, todas falantes da língua Tukano. Por isso, é chamada de Numiã Kurá, que em Tukano significa “Grupo de Mulheres”. A associação atua principalmente dando suporte às vítimas de violência doméstica, de preconceito e de assédio moral e sexual. Também promove atividades culturais, além de oferecer aulas de língua tukano para seus filhos. Ao organizar a produção do artesanato e viabilizar sua comercialização, a associação oferece mais uma fonte de renda para essas mulheres, garantindo a continuidade de seus saberes ancestrais.

Grafismos

A associação realiza um trabalho de registro e de difusão dos grafismos indígenas tukanos, principalmente para os filhos das associadas. Em 2016, a professora Joana Montanha criou um caderno para registrar os grafismos Tukano. O desenho de cada grafismo está acompanhado de seu significado e de seus usos tradicionais. Esse caderno é um material didático para o ensino de língua tukano na escola da associação. 

Os grafismos são pintados em diferentes partes do corpo e nas roupas para ocasiões especiais, como as festas e cerimônias realizadas na associação. Também são aplicados no artesanato, como é o caso da peça Para desalagar. O grafismo em amarelo se chama “caminho da formiga” e é usado no rosto e no corpo das moças para mostrar sua beleza no caminho da roça.

Matéria-prima

As mulheres da associação trabalham com diversas técnicas e materiais, mas a mais difundida são os trançados e a tecelagem com fibras naturais. As peças criadas no encontro são feitas com a fibra do tucum tingidas naturalmente com plantas tintóreas cultivadas pelas próprias artesãs. Elas estão ornamentadas com sementes de açaí e franjas de macramê.

A luta das mulheres indígenas

A Amarn possui importante papel nas lutas pelos direitos dos povos indígenas no âmbito nacional. No final da década de 1980, a associação participou de discussões sobre a Constituinte e foi uma base de apoio para lideranças indígenas do Alto Rio Negro que seguiam para Brasília. Também apoiou e auxiliou a formalização da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira, a maior organização indígena regional do país. A Amarn continua com intensa atuação política e militância, participando de eventos que buscam garantir o acesso da população indígena ao seu território, à saúde e à educação, garantidas pela Constituição, além de apoiar ativamente a criação de outras associações de mulheres.

Para alumiá caminho
ø 38 x 58 cm
Relicário de água doce
ø 21 x 17 cm
Lampejo
ø 21 x 33 cm
Amuleto de caxiri
12 x 33 x 12 cm
Caxiri de milho
23 x 30 x 5 cm

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