Artesanato Rio Grande

Origem

O designer Sioduhi é indígena do Povo Waíkahanã, do Alto do Rio Negro, no estado do Amazonas. Sua chegada à Associação de Mães do Rio Grande, em São Luís do Maranhão, aproximou gerações e diferentes culturas. Nesse encontro de trocas, as artesãs o acolheram como a um filho. Sioduhi, por sua vez, manteve o olhar sensível e os ouvidos atentos a tudo que via e ouvia.

A maior parte das artesãs da associação tem mais de sessenta anos e elas temem que seu artesanato e modos de fazer desapareçam. A industrialização e a desvalorização do fazer manual pelas novas gerações ameaçam a continuidade do trançado com a fibra de buriti, conhecimento que compõe a identidade dessas mulheres e é fonte de renda para muitas famílias da região. Sensível a essas angústias, o designer convidou as artesãs a olhar para a origem, em busca de esperança. 

O fruto de buriti foi a inspiração para a criação das peças, pois ele é o começo e a continuidade. A técnica utilizada para trançar os frutos também faz referência ao início, já que muitas artesãs começaram aprendendo o macramê, quando tinham por volta de dez anos de idade. Ao recriar os frutos, as artesãs do Artesanato Rio Grande desejam que seu trabalho se multiplique e que seus conhecimentos continuem a ser passados de geração para geração.

Bolsa Cacho de buriti
42 x 40 x 22 cm

Artesanato Rio Grande

O grupo começou quando as mulheres do bairro Rio Grande, localizado na zona rural de São Luís no Maranhão, se juntaram para trançar o linho do buriti embaixo das árvores e nas calçadas. Em 2002, criaram a Associação de Mães do Rio Grande, Proteção de Santo Antônio para fortalecer a produção. Perceberam que precisavam de um local adequado para deixar seus filhos pequenos enquanto trabalhavam pois a comunidade não possuía pré-escola. Com muita luta, criaram uma escolinha comunitária para atender às crianças do Rio Grande e de outras comunidades. A escolinha é mantida pela associação com auxílio de patrocínios locais, uma vez que não recebe ajuda governamental.

As artesãs criaram a marca Artesanato Rio Grande para comercializar os produtos e já são bem conhecidas. Elas produzem bolsas e chapéus, dentre outros acessórios, além de toalhas com o linho de buriti. A primeira técnica utilizada pelo grupo, que tem fortes ligações com a cidade de Barreirinhas, a 260 km de São Luís, é o macramê. Muitas aprenderam o artesanato confeccionando bolsas, cintos, rostos de tamanco, redes e bauzinhos. Por meio de cursos passaram a utilizar outras técnicas, como o trançado, a tecelagem e o crochê, diversificando os modelos dos produtos. Atualmente, o grupo é formado por dez mulheres, a maioria das quais tem mais de sessenta anos.

Matéria-prima

O linho do buriti é retirado do olho, a folha nova da palmeira que ainda não abriu. Para que tenha boa qualidade, os olhos devem ser cortados na lua certa, entre o quarto crescente e a cheia. Se colhidos fora desse período, o linho fica fino, pouco resistente ao ataque de insetos e ao mofo. Cortar os olhos é uma atividade muito perigosa, pois é necessário escalar as altas palmeiras nos brejos para alcançá-los. O manejo correto no corte é essencial para a continuidade dos buritizais. Assim, após cortar o olho de uma palmeira, as artesãs esperam que ela se recupere gerando um novo, que não é cortado. O tempo de espera entre um corte e outro é de, pelo menos, um mês.

Após a colheita, os olhos são desfiados. As artesãs fazem um talho na ponta de uma das partes da folha com o auxílio de uma faca afiada, separando o linho que é puxado com uma das mãos. O processo se repete em cada parte do olho, gerando cerca de 100 gramas de matéria-prima. O linho é então cozido e pode passar pelo tingimento com corantes naturais antes de ser colocado para secar. Depois de seco, está pronto para ser utilizado.

Tingimento

O linho de buriti é tingido com corantes naturais, obtidos de plantas da região. Após passar pelo cozimento, as fibras seguem para o banho de tingimento, que contém cinzas de madeira, para fixar e avivar a cor. Das folhas da trepadeira pariri, ou crajiru, são obtidos os tons avermelhados e roxos e da casca da árvore Gonçalo-alves obtém-se os tons terrosos. Outros corantes utilizados são o açafrão (amarelo), urucum (laranja), salsa da praia (verde) e casca do pequi (preto).

Fruteira buritis
ø 39 x 4 cm
Mochila
35 x 44 x 3 cm

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