Ceramistas Tapajônicos

Taporari

Às margens do rio Tapajós, onde atualmente se encontra a cidade de Santarém, no Pará, vivia um povo que falava pelo menos três línguas, praticava a agricultura e realizava intensas trocas comerciais com outros povos, além de possuir um temido exército. 

Após o contato com os europeus, os tapajós foram considerados extintos no final do século XVIII, porém ficaram conhecidos por suas cerâmicas sofisticadas, hoje conservadas em museus. Atualmente, os ceramistas que se consideram herdeiros dessa cultura continuam sua arte, produzindo réplicas fiéis das peças arqueológicas. O encontro do designer Antônio Castro com o grupo de ceramistas tapajônicos teve como fio condutor a criação de peças autorais e utilitárias inspiradas nesse repertório tradicional.

Os conhecimentos acadêmicos do artesão Jefferson Paiva foram o ponto de partida para selecionar os elementos das cerâmicas arqueológicas catalogadas. Feita a pesquisa inicial, Antônio desenhou peças junto ao grupo para discutir a viabilidade das idéias. Mas os desenhos ganharam vida e se modificaram com a criatividade dos artesãos na etapa de modelagem. Como resultado, uma cerâmica original foi criada, tendo como inspiração a tradição ancestral. Os gargalos dos vasos ritualísticos foram ampliados e se tornaram o próprio vaso. Os ornamentos geométricos ganharam novas medidas e as formas humanas se tornaram funcionais como alças e suportes. 

Os artesãos chamaram a cerâmica criada nesse encontro de taporari. O nome é uma homenagem aos povos tapajônicos do passado e do presente: os ancestrais tapajós e os boraris, etnias da maioria dos ceramistas envolvidos no processo de produção.

Vaso Xamã
ø 24 x 32,5 cm

Ceramistas Tapajônicos

Os ceramistas Jefferson Paiva e Vandria Borari se conheceram em 2018. Junto a outros artesãos da região, realizaram um Encontro de Ceramistas Tapajônicos na Vila de Alter do Chão, um distrito da cidade de  Santarém. O evento foi aberto a todos os oleiros que se consideram herdeiros da arte cerâmica tapajônica e tinha o objetivo de dar visibilidade a essa tradição. O grupo foi criando laços de parceria no trabalho e de amizade. Deram oficinas juntos e produziram peças em eventos. Com a chegada da pandemia, o grupo se afastou. A imersão criativa contou com a participação de sete artesãos e foi uma oportunidade para aproximá-los novamente.

A maioria dos integrantes é da etnia indígena borari e, por isso, o grupo possui fortes relações com a vila de Alter do Chão. Essa região é território milenar borari e ali vivem cerca de 500 famílias da etnia, totalizando mais de dois mil indígenas. O território está em processo de identificação para a demarcação, mas sofre com a forte especulação imobiliária e com o crescimento desenfreado do turismo, que ameaça o ambiente e a cultura desse povo. Em Santarém, também há a Terra Indígena Maró, onde vivem indígenas da etnia borari e arapium. Eles lutam pelo reconhecimento do território desde 2011.

Muiraquitã

É uma pequena escultura com forma de animal. A mais comum é o sapo ou a rã. Geralmente é esculpido em pedra verde, como a jadeíta, ou feita de argila. São utilizados como amuletos para afastar os males e trazer boa sorte. As histórias locais contam que os muiraquitãs eram feitos pelas icamiabas, mulheres guerreiras e sem marido que habitavam o Baixo Amazonas. Após terem relações sexuais com homens guacaris, mergulhavam no lago e traziam um barro esverdeado com o qual modelavam os muiraquitãs para presenteá-los.

Xamã

Esse vaso tem o formato inspirado nos gargalos dos vasos do povo tapajônico. Ele faz referência a figura do xamã, com sobrancelha, olhos, nariz e boca encontrados nas representações das cerâmicas arqueológicas. Em algumas culturas amazônicas, o xamã possui o dom de conversar com os espíritos e as divindades, realizar curas e transitar entre o mundo visível e o invisível. A palavra xamã é um termo genérico, emprestado dos povos da Sibéria pela ciência para nomear esses líderes com poderes espirituais. Na região do Tapajós, essa figura é popularmente conhecida como pajé ou sacaca.

Ornamentos

A cerâmica tapajônica possui ornamentos elaborados, inspirados no corpo humano e em animais da região. Podem ser tridimensionais ou na forma de desenhos, feitos por meio de pintura, incisões na argila ou alto relevo. Um dos temas mais encontrados é a onça, sempre modelada com a boca aberta e, por vezes, carregando uma presa com as garras. Sua presença nas cosmologias amazônicas geralmente faz referência às relações de predação entre homens e animais. Compare as réplicas arqueológicas e as cerâmicas taporari criadas no encontro com o designer. Você consegue identificar quais elementos serviram de inspiração?

Vaso
33 x 19 x 24 cm
Moringa xamã
26 x 16 x 25,5 cm
Fruteira
ø 29 cm
Conjunto de pratos muirakitã
ø 27 x 10 cm
Conjunto de pratos
ø 27 x 10 cm
Conjunto de pratos brancos
ø 26 x 10 cm
Castiçal xamã
ø 10 x 13 cm
Castiçal xamã
ø 8 x 10 cm

Próxima comunidade:

Cestaria Baniwa
TOPO