SABER
Consulte nossa Midiateca e confira nossa curadoria de conteúdos sobre fazeres artesanais e o patrimônio imaterial da Amazônia.
A exposição “Criativos por Tradição” foi idealizada e construída de maneira colaborativa, integrando um festival que traz a Amazônia para o foco desta edição.
Apresentamos o artesanato criado nesse território e suas conexões com a diversidade étnica e socioambiental, a sustentabilidade, a transmissão de conhecimentos, a autoria, as trocas de saberes, a imaginação e a inovação; assim como a conexão dos sentidos atribuídos pelos criadores a suas criações em consonância com o ritmo da natureza.
Dividimos o espaço expográfico em dois núcleos. Em um deles apresentamos objetos feitos de sementes, potes de barro e bancos com grafismos, cestos com sofisticados trançados e artefatos feitos de látex e de miçangas. Incluímos também objetos desenvolvidos por iniciativas que encontram no design contemporâneo um canal para reafirmar que o artesanato da Amazônia está em constante renovação. No outro trouxemos o resultado do encontro de múltiplos olhares e sensíveis trocas de conhecimento entre artesãos e profissionais do design.
A estética dos objetos, sejam os tradicionais ou os desenvolvidos com os designers, traduz a relação de seus autores com o bioma, suas cosmovisões e memórias ancestrais, guardando signos de suas crenças, sonhos e afetos.
Com esse festival, pretendemos revelar que não apenas nos usos e nas trocas materiais, mas também na proteção patrimonial, o artesanato tem um valor imensurável para o Brasil, uma vez que integra relações econômicas e políticas, tocando camadas da vida social, seja nas pequenas comunidades onde é produzido, seja nos espaços onde é comercializado.
Apresentar o artesanato e os Criativos por Tradição é o nosso convite para você entender que a Amazônia é maior quando vista de dentro.
Artesol
A alma das coisas
Para esta segunda edição do Festival Criativos por Tradição, temos um recorte territorial onde coexistem humanos e não humanos: um território constituído por floresta, zonas urbanas e rurais, atravessadas por rios, estradas e pelo projeto de desenvolvimento ocidental: a Amazônia.
Acreditamos ser necessário compreender a sua história e contemporaneidade, pois é urgente construirmos meios de manter vivos os conhecimentos e as práticas dos povos tradicionais locais e, assim, garantir a floresta em pé e proteger esse patrimônio da humanidade.
Por isso, trazemos para esta exposição uma estratégia de reflexão sobre o processo criativo na construção do que conhecemos como artesanato e objetos considerados de design. Na diversidade de vozes, procuramos discutir também sobre a função e a forma, a perfeição e a imperfeição, o pessoal e o impessoal e nos questionar sobre a alma dessas criações.
Valorizamos o fazer manual enquanto organização de coletivos e formas colaborativas de relações, como processo de resistência, autodeterminação, conexão e harmonia com a natureza. A partir disso, reunimos obras inéditas de oito coletivos de artesãos, desenvolvidas no tempo de cada grupo e a partir da imersão, facilitação e colaboração com oito designers.
Durante essa vivência, enxergamos a alma que está por trás do objeto artesanal e transformamos nossas relações na contramão do ritmo frenético da produção e do consumo capitalista. Foco em mãos, pés e corpos humanos inteiros que, literalmente, deram vida às coisas – coisas feitas de vida, respeito e regeneração. Procuramos olhar menos para o produto e mais para o processo, com pausas e reflexões, em um tempo com “cheios” e “vazios” que nos traz de volta à presença “desafobada”.
Nas peças aqui expostas, as marcas de uso das ferramentas revelam a memória dos gestos e imprimem a história de seus criadores, promovendo uma conexão com essa materialidade: consciência corporal, que gera consciência material.
Convidamos a essa imersão e reconexão com o que é construído PELO tempo e COM tempo: essa é a arte da natureza.
Barbara Müller e Moara Tupinambá
Curadoria
Uma das mais antigas organizações indígenas do Amazonas, o grupo atua com técnicas como a cerâmica, a tecelagem e o trançado de fibras naturais de tucum e arumã, palmeiras nativas da região norte do país.
Coletivo de Mulheres que atua na criação de cestos e acessórios tramados em palha de buriti, considerada a “árvore da vida”.